5 de dez. de 2014

Leituras

A urgência normalmente ferra tudo (Clarissa  Corrêa)

     Podíamos ter tido mais calma, ter ido mais devagar. Deveríamos ter segurado a onda e medido as palavras. Deveríamos ter tentado controlar a raiva para não magoar o outro. Nossos passos tinham que ter sido exatos, nossos tropeços eram para significar nada perto daquilo que estava começando a ser algo especial e único. Erramos feio. Falamos demais e agimos de menos. Magoamos demais e amamos de menos. Gritamos demais e fomos sensíveis de menos. Lutamos demais e nós entregamos de menos. Relutamos e tivemos medo demais e nós entregamos de menos. Relutamos e tivemos medo demais e nós apaixonamos de menos. Tudo o que era pra ser feito fizemos em dobro. E o que era pra ser, bem, ficamos no saldo devedor. No vermelho.
     Fomos burros demais e inteligentes de menos.
     Podíamos ter tido uma história linda. Mágica, pura, sem cobranças, cheia de respeito, livre, saudável e deliciosa como o barulho da chuva.
     Era para ter sido amor.
     Pronto, falei.
     Falei agora. Mas você vai se calar para sempre.


    (Nada novo até aí.)



(Livro: "Para todos os amores errados)

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